O evidente nível de deterioração da cidade de Salvador não se explica e tampouco se justifica por elementos externos e conjecturas sócio-econômicas internacionais, pois ao contrário dos Estados Unidos da América e a Europa que enfrentam graves crises econômicas; o Brasil, por enquanto, ainda que timidamente consegue apresentar sinais de crescimento econômico contrariando as projeções macroeconômicas mais pessimistas.
No cenário nacional insta ponderar que enquanto os gestores públicos municipais das demais capitais brasileiras fazem um esforço hercúleo para torná-las mais aprazíveis a sua população e aos turistas que as visitam, temos bons exemplos na cidade de Aracaju, capital de Sergipe que está em festa carnavalesca antecipada (Pré-Caju 2012) e também em Fortaleza, a capital do Ceará e que é a capital brasileira que tem as obras mais adiantadas na preparação para a Copa do Mundo se comparada com as demais; enquanto que Salvador, a 1ª capital do Brasil parece ter seguido o caminho oposto: o da degradação.
A cidade parece ter perdido o seu encantamento e os olhares de perplexidade dos turistas que visitam a primeira capital do Brasil demonstram a assertiva, a desagradável surpresa com o cenário de abandono de Salvador também evidenciam o mistério que paira sobre a administração municipal soteropolitana que está inerte diante do contexto caótico da cidade e que não esboça qualquer sinal de reação para reverter tal descalabro que tanto nos envergonha como baianos e acima de tudo como cidadãos. Os problemas estruturais de Salvador não derivam de fatores econômicos internos e externos e sim políticos e administrativos, senão vejamos.
Cumpre destacar que a SALTUR – Empresa Salvador Turismo é o órgão vinculado a administração municipal responsável pelo turismo de Salvador e inexplicavelmente tem sido comandada por um partido político que faz uma oposição ferrenha ao governo estadual e federal, um partido cujos correligionários detêem a propriedade de importantes meios de comunicação no estado da Bahia e é o mesmo partido que os baianos rejeitaram nas urnas nas quatro últimas eleições (2004, 2006, 2008 e 2010).
Deixando de lado as polêmicas que envolvem o Camarote Salvador em Ondina, o qual um dos proprietários também é correligionário do mesmo partido; surpreende tal anomalia, pois tanto o partido do prefeito quanto o partido do vice-prefeito de Salvador compõem a base governista do governo estadual e federal.
Para tentar explicar a tamanha balbúrdia política e administrativa que paira sobre a cidade de Salvador só resta até então uma possibilidade plausível: recorrer a História, precipuamente a uma tática militar que foi utilizada tanto nas Guerras Napoleônicas (1799-1815) quanto na metade da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) que é denominada por muitos historiadores como: “terra arrasada.”
Em 1812 Napoleão Bonaparte estava decidido a esmagar o império russo e invadiu-o com aproximadamente seiscentos mil homens, porém ele não sabia é que os russos haviam abandonado sua própria capital, deixando-a em chamas, sem suprimentos e levando documentos governamentais importantes, além da família real. O objetivo disso era criar uma armadilha para Napoleão, que terminou caindo nela, pois estavam acostumados a saquear as cidades invadidas e a usar os alimentos que eram encontrados, o exército francês se deparou com as cidades destruídas, falta de alimentos, escassa produção agrícola e o rigorosíssimo inverno russo.
Ao atingir o alvo, a capital do império russo (Moscou) Napoleão Bonaparte esperava encontrar o czar para poder obrigá-lo a coroar Napoleão como o “rei” daquele império (esta guerra ocorreu antes da Revolução Russa em 1917 e a formação da URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas em 1922), mas encontrou a cidade em chamas, vazia e deparou-se com falta de mantimentos (terra arrasada) e em pleno inverno russo.
Em tamanha adversidade teve de retirar parte de suas tropas, em meio a morte de seus soldados por hipotermia, fome e ataques de cossacos que utilizavam táticas de guerrilha, após este desastroso conflito com os russos o exército napoleônico teve baixas sucessivas até a sua rendição em 1815.
Na 2ª Guerra Mundial (1939-1945) a tática da terra arrasada mais uma vez foi aplicada pelos russos (União Soviética) com sucesso, só que desta vez contra os nazistas. Cerca de uma semana antes do início da 2ª Guerra Mundial foi assinado em Moscou na madrugada de 24 de agosto de 1939 (mas datada de 23/08/1939) pelo então Ministro do Exterior Soviético Vyacheslav Molotov e pelo então Ministro do Exterior da Alemanha Nazista Joachim von Ribbentrop um acordo (pacto) que em linhas gerais estabelecia que ambas as nações se comprometiam a manter-se afastadas uma da outra em termos bélicos. Era o tão famoso pacto de não-agressão germânico-soviético.
Em 1941 os alemães quebraram o pacto e sem aviso prévio invadiram o território soviético. Esta foi considerada a maior e mais feroz campanha militar da História em termos de mobilização de tropas e também termos de baixas sofridas, em julho daquele mesmo ano transmitiu-se a população um comunicado de terra arrasada no qual as cidades, casas e plantações deveriam ser destruídos ou queimados, para privar os invasores de qualquer recurso (a própria população fez este trabalho e migravam para o centro do país) deixando as cidades mais periféricas desprovidas de recursos aos invasores.
O povo soviético utilizando a estratégia da terra arrasada deveria abandonar toda e qualquer complacência com os alemães e deixá-los sem qualquer abrigo, sem água e sem energia elétrica a partir de janeiro de 1942 sob rigoroso inverno o exército nazista sofreu baixas significativas e suas tropas e após enfrentar o exercito vermelho tiveram que recuar e abandonar o país, a desastrada invasão a União Soviética foi o marco inicial da derrota nazista na 2ª guerra mundial. O fim desta história todos nós sabemos...
Volvendo a nossa realidade soteropolitana percebe-se a utilização da mesma tática (terra arrasada) por parte dos grupos políticos conservadores e que foram rejeitados nas urnas pelo eleitorado por quatro eleições consecutivas (2004, 2006, 2008 e 2010) e que almejam a qualquer custo voltar ao poder, destaco que infelizmente é quase certo que a cidade de Salvador seja excluída da Copa do Mundo de 2014.
Um fato deveras lamentável e que será uma humilhação para a Bahia no cenário nacional e internacional e seguramente será utilizado como instrumento de marketing político pelas forças sombrias que comandam setores da imprensa local, detém o comando da SALTUR – Empresa Salvador Turismo e querem voltar ao poder apesar do eleitorado tê-los rejeitados nas urnas por quatro vezes consecutivas (2004,2006,2008 e 2010).
Destaco que não adianta Salvador ter um belo estádio de futebol (Arena Fonte Nova) se a 1ª capital do Brasil não dispõe de uma mínima infra-estrutura para a sua população tão sofrida, bem como para receber os milhares de turistas que visitarão esta cidade e que nos últimos anos já não se encantam mais como antes, pois São Salvador da Bahia de Todos os Santos, a Terra do Senhor do Bonfim se transformou em uma “terra arrasada”, num palco de disputas políticas que chegaram a uma baixeza sem precedentes em seus 462 anos de história.
E ainda, cumpre alertar que quinze meses talvez não seja um tempo razoável e suficiente para que o novo prefeito de Salvador (que será eleito daqui a 8 meses e meio ou 9 meses e uma semana se houver 2º turno) a partir de 1º de janeiro de 2013 adote todas as intervenções necessárias para sanar tantas pendências nesta cidade.
Conclusivamente, percebe-se que hoje é o tempo que corre contra a cidade e por força desta absurda balbúrdia política e administrativa que paira sobre a “cidade arrasada” talvez não seja mais possível correr contra o tempo a partir do ano que vem, pois o jogo político em torno da sucessão municipal em Salvador chegou a um nível rasteiro nunca antes visto em sua existência.
Antoniel Ferreira Junior
Salvador, 21 de janeiro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário